entrevista >> Ângela Ro Ro
"A vovó aqui ainda está selvagem"
Antes de desembarcar em Natal, Ângela Ro Ro deu voltas pela vida. Viajou muito, até no sentido figurado da palavra "viajar". E parece ter finalmente se encontrado quando precisou olhar para dentro de si. No show desta quinta-feira, o público do Teatro Riachuelo verá uma compositora e intérprete de estilo inigualável 60 quilos mais magra e com a mesma vontade de viver, mesmo sem a companhia do álcool, do cigarro, das toxinas e ainda com o espírito hippie e meio porra-loca que marcaram e marcam a personalidade desta artista verdadeiramente brasileira.
Angela Maria Diniz Gonçalves é carioca nascida em Copacabana, criada em Ipanema e fecundada num carnaval em Vila Isabel. De menina moça de colégio de freiras e criança em contato com a música desde os nove anos, à mulher fêmea hippie do Arpoador, foi um pulo. E o tempo também voou quando se iniciou na bebedeira. Ângela Ro Ro foi vítima da ditadura e de suas próprias fraquezas. Nas juventude, fumou, bebeu, engordou, sofreu e, sobretudo, viveu. E o melhor: continua mais viva do que nunca, mesmo no processo reverso: magra e abstêmia de qualquer droga aos 63 anos.
A voz rouca, grave e a espontaneidade nos gestos, palavras ou na própria música, se mantém inalterados. Seus shows misturam essas adversidades vividas e superadas, e o bom humor característico. E nessa levada se vê jazz, MPB e um bolero-blues característico que a própria Ângela nega e os críticos ratificam. Na entrevista abaixo ela diz mais. São palavras de quem está aí para o que der e vier, com fôlego e entusiasmo pela vida, pela música e pela Natal que deixou em um passado nem tão distante assim e que amanhã rrencontrará em um novo palco.
Pra você que é ligada em signos, os ascendentes estão favoráveis a um show bacana em Natal?
Você andou olhando meu site, num é? (risos). Cara, faz tempo que não vou a Natal - uns 15 ou 18 anos. E Natal sempre foi uma constante em minha carreira. Então, estou com muita sede de ir. É um público quente, amigo. E para eles vou levando o que aconteceu nesse período e o que cantava quando ia por aí. Meu público não é imenso, não sou uma mega estrela, mas sou satisfeita com meu número de fãs e continuo arrebanhando novos amigos - uma nova geração que tem procurado conhecer meu trabalho. Inclusive levarei CDs e DVDs com a devida nota fiscal para vender (risos). São canções puxadas para o jazz, canções francesas...
Vários críticos rotulam seu trabalho entre o bolero e o blues...
Por acaso nunca gravei um blues. São baladas, tem lá uma coisa parecida, mas não é blues. E bolero não tenho nenhum. Mas vamos cantar alguns por aí. E o blues também está no repertório.
Tim Maia brincou uma vez após uma dieta de duas semanas, dizendo ter perdido 14 dias. Você está há 10 anos sem fumar nem beber. O que você perdeu e ganhou nessa década?
(risos) Tim era demais. Nem lembrava mais dessa piada dele. Bom, perdi 60 quilos e não foram em 60 dias. Foi com muita calma. E ficaram os 60 quilos que prestavam. Perdi meus pais, fiquei fragilizada pra vida, desprezada; eu precisava viver. E foi cantando um jazz de Frank Sinatra que descobri isso. Simplesmente não consegui chegar ao fim da música. Pedi uma cadeira pra sentar e dali decidi pelo processo inverso. Eu estava de luto do meu pai, minha mãe com câncer. Eu precisava mudar.
Foi radical, então.
E não procurei médico ou essas instituições como o Alcoolatras Anônimos. Até respeito muito, acho fantásticas. Mas pra mim não funciona; eu ia bagunçar o negócio, sabe? (risos). Eu não iria dar aquela palestra e dizer: "Há um mês eu não bebo#". Isso pra mim seria motivo pra comemorar (risos). Decidi pelos exercícios ao ar livre. E aí, sim, fiz uns exames de saúde para me guiar nessas atividades,porque já estava com mais de 50 Se arrependeu de alguma coisa?
Fiz muita bobagem, atrevimentos, padeci feito cão na mão dos outros# Uma parte da minha vida é um obituário da Amy (Winehouse). E sobrevivi. Hoje estou com 62 anos vestindo bonitinha, caminhando alguns quilômetros por dia e com fôlego. Aconteceu comigo um pequeno milagre chamado 'força de vontade'. Larguei cigarro, qualquer tipo de toxinas e, principalmente, o alcool. Cortei mágoas que hoje rimam com águas e dei de presente à minha mãe a filha dela de novo.
Ainda há espaço para o hippie nesse mundo virtual?
Continuo uma hippie velha. Ainda me pego em alguns valores, por mais que eu queira me afastar. Há um Peter Pan dentro de mim; uma mistura de anjo, demônio e criança. Embora não saiba bem o que seja realmente um hippie. Já fiquei um tempo na estrada, ao relento, construindo experiências de vida. Mas já com 20 e poucos anos viajei à Europa acabou o lance do uísque e precisei trabalhar, ou morria congelada. Fiz o que nunca tinha feito na vida: fui faxineira de hospital, lavei prato e fiz uns biscates de música.
Desde 2006 não há CD inédito seu. Tem previsão?
Não tenho gravadora. Este ano estamos em busca de patrocínio para tentar no segundo semestre a gravação de um CD e DVD. Vamos aproveitar que estou de ladeira acima para gravar. A vovó aqui ainda está selvagem (risos).
É essa Ângela Ro Ro que chega a Natal?
Cara, eu criei amor pela vida. E é esse amor que levo a Natal. Ainda adoro fazer piada e levo isso ao show, junto com muita música; junto a Ricardo Mac Cord, que está comigo há 20 anos e faz comigo o show. É um cenário simples, em forma de camerata, piano e voz, mas bem complexo ao mesmo tempo. Acrescentamos essas coisas hightec também.
Você tem apresentado um formato de show no Teatro Rival (RJ) repleto de canjas, com o Nas Ondas da Ro Ro. Terá algo parecido em Natal?
É um programa de rádio online. Gravamos um ano inteiro. Temos doisconvidados por noite e dois por mês. Já cantaram com a gente Tony Platão, Otto, Jorge Vercilo, Dudu Nobre, Elza Soares, Toni Garrido. Já há 17 programas para serem ouvidos no Uol ou de graça em meu site (angelaroro.com.br). Em Natal será outra coisa. Aliás, sempre fui muito bem acolhida no Teatro Alberto Maranhão. Espero que não seja diferente neste novo teatro.
"A vovó aqui ainda está selvagem"
Edson Gês/CB/D.A Press |
Angela Maria Diniz Gonçalves é carioca nascida em Copacabana, criada em Ipanema e fecundada num carnaval em Vila Isabel. De menina moça de colégio de freiras e criança em contato com a música desde os nove anos, à mulher fêmea hippie do Arpoador, foi um pulo. E o tempo também voou quando se iniciou na bebedeira. Ângela Ro Ro foi vítima da ditadura e de suas próprias fraquezas. Nas juventude, fumou, bebeu, engordou, sofreu e, sobretudo, viveu. E o melhor: continua mais viva do que nunca, mesmo no processo reverso: magra e abstêmia de qualquer droga aos 63 anos.
A voz rouca, grave e a espontaneidade nos gestos, palavras ou na própria música, se mantém inalterados. Seus shows misturam essas adversidades vividas e superadas, e o bom humor característico. E nessa levada se vê jazz, MPB e um bolero-blues característico que a própria Ângela nega e os críticos ratificam. Na entrevista abaixo ela diz mais. São palavras de quem está aí para o que der e vier, com fôlego e entusiasmo pela vida, pela música e pela Natal que deixou em um passado nem tão distante assim e que amanhã rrencontrará em um novo palco.
Pra você que é ligada em signos, os ascendentes estão favoráveis a um show bacana em Natal?
Você andou olhando meu site, num é? (risos). Cara, faz tempo que não vou a Natal - uns 15 ou 18 anos. E Natal sempre foi uma constante em minha carreira. Então, estou com muita sede de ir. É um público quente, amigo. E para eles vou levando o que aconteceu nesse período e o que cantava quando ia por aí. Meu público não é imenso, não sou uma mega estrela, mas sou satisfeita com meu número de fãs e continuo arrebanhando novos amigos - uma nova geração que tem procurado conhecer meu trabalho. Inclusive levarei CDs e DVDs com a devida nota fiscal para vender (risos). São canções puxadas para o jazz, canções francesas...
Vários críticos rotulam seu trabalho entre o bolero e o blues...
Por acaso nunca gravei um blues. São baladas, tem lá uma coisa parecida, mas não é blues. E bolero não tenho nenhum. Mas vamos cantar alguns por aí. E o blues também está no repertório.
Tim Maia brincou uma vez após uma dieta de duas semanas, dizendo ter perdido 14 dias. Você está há 10 anos sem fumar nem beber. O que você perdeu e ganhou nessa década?
(risos) Tim era demais. Nem lembrava mais dessa piada dele. Bom, perdi 60 quilos e não foram em 60 dias. Foi com muita calma. E ficaram os 60 quilos que prestavam. Perdi meus pais, fiquei fragilizada pra vida, desprezada; eu precisava viver. E foi cantando um jazz de Frank Sinatra que descobri isso. Simplesmente não consegui chegar ao fim da música. Pedi uma cadeira pra sentar e dali decidi pelo processo inverso. Eu estava de luto do meu pai, minha mãe com câncer. Eu precisava mudar.
Foi radical, então.
E não procurei médico ou essas instituições como o Alcoolatras Anônimos. Até respeito muito, acho fantásticas. Mas pra mim não funciona; eu ia bagunçar o negócio, sabe? (risos). Eu não iria dar aquela palestra e dizer: "Há um mês eu não bebo#". Isso pra mim seria motivo pra comemorar (risos). Decidi pelos exercícios ao ar livre. E aí, sim, fiz uns exames de saúde para me guiar nessas atividades,porque já estava com mais de 50 Se arrependeu de alguma coisa?
Fiz muita bobagem, atrevimentos, padeci feito cão na mão dos outros# Uma parte da minha vida é um obituário da Amy (Winehouse). E sobrevivi. Hoje estou com 62 anos vestindo bonitinha, caminhando alguns quilômetros por dia e com fôlego. Aconteceu comigo um pequeno milagre chamado 'força de vontade'. Larguei cigarro, qualquer tipo de toxinas e, principalmente, o alcool. Cortei mágoas que hoje rimam com águas e dei de presente à minha mãe a filha dela de novo.
Ainda há espaço para o hippie nesse mundo virtual?
Continuo uma hippie velha. Ainda me pego em alguns valores, por mais que eu queira me afastar. Há um Peter Pan dentro de mim; uma mistura de anjo, demônio e criança. Embora não saiba bem o que seja realmente um hippie. Já fiquei um tempo na estrada, ao relento, construindo experiências de vida. Mas já com 20 e poucos anos viajei à Europa acabou o lance do uísque e precisei trabalhar, ou morria congelada. Fiz o que nunca tinha feito na vida: fui faxineira de hospital, lavei prato e fiz uns biscates de música.
Desde 2006 não há CD inédito seu. Tem previsão?
Não tenho gravadora. Este ano estamos em busca de patrocínio para tentar no segundo semestre a gravação de um CD e DVD. Vamos aproveitar que estou de ladeira acima para gravar. A vovó aqui ainda está selvagem (risos).
É essa Ângela Ro Ro que chega a Natal?
Cara, eu criei amor pela vida. E é esse amor que levo a Natal. Ainda adoro fazer piada e levo isso ao show, junto com muita música; junto a Ricardo Mac Cord, que está comigo há 20 anos e faz comigo o show. É um cenário simples, em forma de camerata, piano e voz, mas bem complexo ao mesmo tempo. Acrescentamos essas coisas hightec também.
Você tem apresentado um formato de show no Teatro Rival (RJ) repleto de canjas, com o Nas Ondas da Ro Ro. Terá algo parecido em Natal?
É um programa de rádio online. Gravamos um ano inteiro. Temos doisconvidados por noite e dois por mês. Já cantaram com a gente Tony Platão, Otto, Jorge Vercilo, Dudu Nobre, Elza Soares, Toni Garrido. Já há 17 programas para serem ouvidos no Uol ou de graça em meu site (angelaroro.com.br). Em Natal será outra coisa. Aliás, sempre fui muito bem acolhida no Teatro Alberto Maranhão. Espero que não seja diferente neste novo teatro.
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